sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Resenha: Stone Temple Pilots - Via Funchal - São Paulo


Após cinco anos de inatividade, em 2008 o Stone Temple Pilots retornou aos palcos com uma turnê que seria uma espécie de “reunião comemorativa”. Apesar dos conflitos internos e externos, aparentemente o grupo gostou da ideia de encher os locais de espetáculos nos quais visitaram. Fato este deu certo ânimo na carreira, o que resultou em material inédito: o disco Stone Temple Pilots, lançado em maio.

Há pouco mais de dois anos, os fãs brasileiros ficaram decepcionados com o cancelamento daquela que seria a primeira apresentação da banda em solo nacional. No entanto, no dia 09 de dezembro de 2010, a banda fez a alegria de seus admiradores ao realizar o aguardado show de estreia no país. Cerca de 7 mil pessoas lotaram as dependências do Via Funchal, em São Paulo.

Perante o horário previsto, tem-se vinte minutos de atraso. As luzes se apagam e uma imensa escuridão é rapidamente composta. Os irmãos DeLeo são os primeiros a subir ao palco. Logo em seguida, o baterista Eric Kretz dá o ar da graça. Uma gritaria estrondosa é percebida assim que o talentoso-problemático Scott Weiland aparece, segurando seu tradicional megafone em uma das mãos.

A poderosíssima e contagiante “Crackerman” é a primeira música do espetáculo. Os fãs chegam à loucura quando a introdução da clássica “Wicked Garden” é executada. A casa é uma só voz à medida que um dos maiores sucessos da carreira é tocado. Impossível não ser transportado de volta aos anos 90, quando assistíamos insistentemente o clipe de “Vasoline” na MTV. O momento é de pura nostalgia, celebração, alegria.

Para a surpresa de alguns, uma faixa inesperada, do álbum Nº 4, é resgatada magistralmente pelos integrantes. “Heaven & Hot Rods” é intensa, dançante e arrastada, o que traduz uma mistura perfeita entre peso e swing. “Between The Lines”, uma das melhores músicas do novo trabalho arranca aplausos e berros ensandecidos de todos os presentes. A gratidão e o respeito aos fãs é notória no rosto de cada integrante. Entretanto, o que se mostra mais satisfeito com a calorosa recepção sul-americana é o baixista Robert DeLeo.

Ainda na aposta de tocar material recente, a estranha “Hickory Dichotomy” não atinge altos picos de empolgação por parte da plateia. Como que em uma tentativa de se redimir com os fãs, “Still Remains”, do excelente Purple (1994), é relembrada. Contudo, mais uma dose de desperdício é lançada aos ouvidos: a popzinha chatíssima e dispersiva “Cinnamon”, infelizmente, também entra no set list. Para quem imaginava que o show do Stone Temple Pilots seria perfeito do começo ao fim, infelizmente, se deu mal.

Apesar de pouquíssimos momentos não tão empolgantes, a maravilhosa “Big Empty” vem para exaltar novamente os ânimos. Cantada a plenos pulmões por todos os presentes, a música é um dos momentos mais memoráveis da noite. Impossível não se contagiar com o Via Funchal inteiro cantando: “Time to take her home, her dizzy head is conscience laden / Time to take a ride, it leaves today no conversation…”.

Quase uma hora de show e a banda apresenta sinais de cansaço, principalmente o vocalista Scott Weiland. Este, em todos os intervalos, recorre a duas garrafas colocadas à frente da bateria – uma delas certamente contém água, já a outra, só Deus sabe (sic). O Led Zeppelin, assumidamente, é uma das principais influências do Stone Temple Pilots. Estes nunca fizeram questão de esconder tal referência. Tanto é que “Dancing Days” é executada com grande dedicação pelo quarteto norte-americano.

É incrível como algumas pessoas insistem em dizer que o STP nada tem a ver com o grunge. Mas, para provar que a realidade é outra, inúmeros fãs, vestindo camisas de tradicionais bandas oriundas de Seattle e com as famosas flanelas xadrez, berram os versos da fantástica “Silvergun Superman”.

Scott faz certo suspense, pega o microfone e diz: “a próxima música se chama ‘Plush’”. Bastam os acordes iniciais para o Via Funchal vir abaixo. Certamente este, que é o maior clássico da carreira do grupo, produz uma das cenas mais lindas e inesquecíveis de todo o espetáculo. Histórico, memorável e energético. “Interstate Love Song” é outra que também traz os anos 90 novamente à tona. Nesta, muitas pessoas se abraçam e cantam, de olhos fechados, como se em transe estivessem.

A hard rock “Huckleberry Crumble” até que se mostra empolgante, mas não demonstra nem um terço do alvoroço causado pelas duas anteriores. “Down”, uma das mais pesadas da noite, revela um entrosamento perfeito entre a “cozinha” composta por Dean, Robert e Eric. Fato este que certamente pode ser invejado por qualquer pseudo-músico presente.

E como a noite é permeada por nostalgia e saudosismo, é óbvio que o mega-hit “Sex Type Thing” não fica de fora. Os acordes do pomposo rock star Dean DeLeo são precisos a cada palhetada. O público, mais uma vez, é um espetáculo à parte. Scott Weiland parece não acreditar em tamanha devoção à música e assiste, paralisado, a massa sobrepondo sua própria voz ao microfone.

Pausa para se refrescar, tomar fôlego e aguçar ainda mais a ávida plateia. Novamente, Weiland, do alto de seus 41 anos, pega o megafone, coloca o microfone à frente do objeto e canta: “I am smellin' like the rose that somebody gave me on my birthday deathbed / I am smellin' like the rose that somebody gave me 'cause I'm dead & bloated”. O anúncio de “Dead & Bloated” é prontamente entendido e os fãs pulam, cantam e se empolgam como se tivessem 15 anos de idade. A magia vinda do palco conquista e atinge, novamente, a totalidade dos presentes.

Após cerca de 90 minutos de um verdadeiro show de Rock, é chegado o momento da partida. "Trippin' On a Hole in a Paper Heart", a única do disco Tiny Music... Songs from the Vatican Gift Shop (1996), encerra o que foi, sem dúvida, o último grande espetáculo do ano de 2010.

A apresentação foi finalizada, mas a reverência à banda continua, ainda mais forte, no coração de todos os fãs que no Via Funchal estiveram. Acusados muitas vezes, preconceituosamente, de “cópia barata de Pearl Jam e Alice In Chains”, o Stone Temple Pilots provou que não precisa ficar à margem nem à sombra de certos grupos. Sinceridade e amor à música que fazem ficaram estampados nas feições dos quatro integrantes quando se puseram à frente do palco, no final, em uma demonstração honesta de retribuir o carinho demonstrado pelos fãs brasileiros.


Set List:

"Crackerman"
"Wicked Garden"
"Vasoline"
"Heaven & Hot Rods"
"Between the Lines"
"Hickory Dichotomy"
"Still Remains"
"Cinnamon"
"Big Empty"
"Dancing Days" (Led Zeppelin)
"Silvergun Superman"
"Plush"
"Interstate Love Song"
"Huckleberry Crumble"
"Down"
"Sex Type Thing"

Bis
"Dead & Bloated"
"Trippin' On a Hole in a Paper Heart"

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