quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Resenha: The Toy Dolls - Clash Club - São Paulo


Há quatro anos sem dar as caras em terras brasileiras, o Toy Dolls retornou ao país para uma série de três apresentações, todas no mês de setembro. Os ingleses tocaram no dia 23, no Bar Opinião, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul; os curitibanos receberam o trio no John Bull Music Hall, no dia 24; já São Paulo teve a honra de conferir a empolgante performance dos caras no dia 25, no excelente Clash Club, que sempre dá um espetáculo à parte em questão de estrutura, pontualidade e qualidade sonora.

Uma temperatura agradável contribuía para que a noite fosse perfeita. Entretanto, a probabilidade de dar algo errado era considerável, pois um público bastante diversificado lotava becos, bares e vias das imediações da rua Barra Funda. Bastava uma simples caminhada para visualizar punks, skinheads e simples admiradores do bom e velho Rock’n’Roll convivendo no mesmo ambiente. A pergunta que não queria calar tomava conta da mente: será que tudo vai correr bem? Sim. E muito bem!

Os argentinos do Cadena Perpetua foram incumbidos de abrir a noite. No entanto, não se sabe o porquê de os “hermanos” não terem subido ao palco. Há quem diga que os rapazes sofreram um acidente. Deixadas as devidas fofocas e especulações de lado, vamos ao que mais interessa. Toy Dolls, uma das maiores bandas de Punk Rock de todos os tempos!

Nove e cinco da noite, os alto-falantes do Clash anunciam a valsa “The Blue Danube”, do austríaco Johann Strauss II. Logo em seguida, eis que surge The Amazing Mr. Duncan, Tom Goober e, talvez, a figura mais aguardada, Michael “Olga” Algar. Vestido com seus tradicionais ternos, gravatas tamanho PP, óculos pretos com armações coloridas e coturnos, o trio logo tratou de esbanjar coreografias, humor e irreverência. A maravilhosa “Cloughy is a Bootboy!” abre a apresentação e incendeia punks, skins e quem mais estivesse se empurrando na pista.

“Olá”, diz Olga no microfone e os acordes iniciais de “Dougy Giro” são recebidos aos berros pelos presentes. O vocalista e guitarrista percebe que é o momento ideal para a galera soltar os pulmões. A hilária “Queen Alexandra Road...” foi seguida por “Barry The Roofer”. O público, completamente anestesiado pela presença da banda, mal conseguia parar para respirar entre um som e outro.

“Lambrusco Kid”, sem dúvida um dos maiores clássicos do Toy Dolls, foi responsável por um dos momentos mais engraçados da apresentação. Olga entrou com uma garrafa inflável gigante de champanhe e tentou abrí-la. A intenção era despejar confete e papel picado no público, mas a armação não deu certo por conta de problemas de ordem “técnica”.

O trio já tocava por cerca de meia hora quando outra excelente canção, talvez a mais conhecida de todas as três décadas da banda, foi executada. “Nellie The Elephant”, apesar de toda brincadeira e paródia que arrancam risos de quem a ouve, foi a mais bonita do show. Punks, skins e admiradores da boa música se abraçavam, riam e cantavam juntos o empolgante refrão. Ao acender das luzes, a celebração era ainda mais intensa e emocionante.

A energia existente entre os presentes e o trio era de impressionar qualquer um que prestasse a mínima atenção no espetáculo. Do começo ao fim, plateia e trio estavam completamente sintonizados e provavam que o Punk Rock é muito mais do que simples acordes e um bando de jovens revoltados contra alguma situação. “Idle Gossip”, “Fisticuffs In Frederick Street”, “Alecs Gone” e “Harry Cross” foram ótimos exemplos da plena interação entre fãs e grupo.

Era chegado o momento da primeira pausa. Mas, antes de sair do palco para trocar o figurino, respirar e retomar o fôlego, o Toy Dolls executou um cover dos grandes clássicos da surf music, “Wipe Out”. Este, como já era de se esperar, foi um show de coreografias e acrobacias, com direito até, acredite se quiser, a giros de 360º graus tanto da guitarra quanto do baixo. Impressionante!

A versão instrumental de “When The Saints Go Marching In”, de Louis Armstrong, marca o retorno triunfal. Olga é sem dúvida um grande músico e faz todos acreditarem que ser um bom guitarrista tocando Punk Rock não é tão impossível quanto parece ser.

Para encerrar a apresentação, que durou uma hora e dez minutos, três músicas que relembram o início da carreira. “Glenda And The Test Tube Baby”, do álbum de estreia, Dig That Groove Baby (1983), “She Goes To Finos”, do segundo disco, A Far Out Disc (1985), e “Theme Tune”, também do primeiro registro.

É engraçado como ao mesmo tempo em que uma banda que, aparentemente, se propõe a fazer graça de tudo, consegue ser extremamente profissional em cima do palco. É verdade que o Toy Dolls não é politizado como o The Clash, nem agressivo como o Exploited, mas é um grupo que se destaca exatamente por ser punk e estar “fora do eixo” convencional/tradicional do que se via no final dos anos 70, quando o movimento saía dos subúrbios e explodia nos quatro cantos do planeta.

Por falar em Olga, o cara é sem dúvida uma das figuras mais carismáticas do cenário Punk. Além de incansável – apesar de certa idade -, o líder do Toy Dolls é um excelente guitarrista que, inclusive, recebe elogios de músicos que não fazem parte do cenário Punk. Quem esteve no Clash Club percebeu que é possível ser técnico e dedicado ao instrumento, mesmo que a base de suas músicas seja aparentemente fácil. Longa vida ao grande Olga e à sua banda.

Set List:

"Cloughy Is A Bootboy!"
"Dougy Giro"
"Queen Alexandra Road Is Where She Said She'd Be But Was She There To Meet Me? No Chance"
"The Death Of Barry The Roofer With Vertigo"
"Lambrusco Kid"
"Harry's Hands"
"Spiders in the Dressing Room"
"Nellie the Elephant"
"The Ashbrooke Launderette You'll Stink, Your Clothes'll Shrink Your Whites'll Be As Black As Ink"
"I Caught It From Camilla"
"Bless You My Son / My Girlfriend Dad's a Vicar"
"Olga I Cannot"
"Idle Gossip"
"Wakey Wakey"
"Fisticuffs in Frederick Street"
"Tocatta in DM"
"Alecs Gone"
"Harry Cross (A Tribute to Edna)"
"Wipe Out"

Bis:
"When The Saints Go Marchin' In"
"Glenda and the Test Tube Baby"
"She Goes to Finos"
"Theme Tune"

Um comentário: