terça-feira, 25 de maio de 2010

Resenha: Mudhoney - Clash Club - São Paulo - 21/05/2010

Mesmo com a infestação de inúmeras bandas detestáveis e absolutamente iguais tanto na música quanto no visual, o Mudhoney provou que o Rock de qualidade ainda tem espaço garantido no underground.

Pela quinta vez no Brasil, os norte-americanos estremeceram as paredes do Clash Club, em São Paulo, e deixaram claro que, para se fazer Rock, existem dois ingredientes indispensáveis: sinceridade e vontade - ao contrário do que o mainstream atual insiste em enfiar em nossos ouvidos.

A exemplo do que aconteceu no mesmo Clash há cerca de um ano e meio, o quarteto abriu o show com o cover do Fang, “The Money Will Roll Right In”. “I’m Now”, faixa de abertura do disco The Lucky Ones (2008), foi seguida por “Lucky Ones” e pela excelente “Inside Out Over You”.

O público já estava completamente em transe quando Mark Arm empunhou a guitarra pela primeira vez e Steve Turner tocou os primeiros acordes da clássica “You Got It (Keep It Outta My Face)”. Esta, por sua vez, foi cantada a plenos pulmões pelos presentes. Cena linda de se ver e a certeza de que o grunge ainda habita muitos corações paulistanos.

“Suck You Dry”, o primeiro e talvez um dos únicos “sucessos” da noite, acordou de vez os que ainda não tinham se dado conta de quem estava no palco. Depois da pancadaria, “Oblivion (Symbol For Infinity)” veio para acalmar os ânimos dos mais exaltados. Uma pequena pausa e Turner deu o recado por meio da introdução de “Blinding Sun”.

A energética “Inside Job” ganhou uma roupagem diferente da habitual, pendendo para um lado mais dançante e Rock’n’Roll. O baixista Guy Maddison não escondia a satisfação enquanto a executava. Momento de retornar às origens e disparar o segundo petardo do álbum Superfuzz Bigmuff (1988). A perfeição de “Sweet Young Thing Ain’t Sweet No More” chegou a dar inveja aos que um dia tentaram “coverizá-la”.

Após a alucinógena “Sweet Young Thing...”, uma verdadeira pedrada regada a diversas microfonias foi promovida pelo quarteto. “Let It Slide” arrancou aplausos e berros ensurdecedores dos fãs. Infelizmente, o amplificador de Turner passou a apresentar uma série de problemas técnicos e, a partir de então, o som se tornou um pouco “embolado” – mas nada que prejudicasse a excelente noite.

Enquanto a equipe técnica tentava remediar a situação, o restante do grupo amenizava a ansiedade da plateia com um pouco de blues. “É assim que me comunico”, afirmou Mark Arm.

A bela sujeira de “Judgment, Rage, Retribution and Thyme” foi seguida pela cristalina “Good Enough”. Visivelmente com problemas no amplificador, Steve Turner, o monstro da microfonia técnica, não hesitou e fez a alegria dos presentes com a explosiva “Touch Me I’m Sick”. Esta foi executada propositalmente em um tom mais alto, talvez para o guitarrista deixar as imperfeições evidentes – coisa de quem não se preocupa nenhum pouco com as aparências.

A faixa de abertura do álbum Mudhoney (1989), “This Gift”, e a quase hardcore, “F.D.K. [Fearless Doctor Killers]”, levaram o público ao êxtase. E depois de quase uma hora de show, uma pequena pausa para relaxar e respirar caiu bem. Logo em seguida, uma extensa introdução, que pelo despretenciosismo mais parecia uma jam session, anunciou a fantástica “In ‘N’ Out Of Grace”.

Nesta, um verdadeiro espetáculo foi visto: Mark Arm parecia puxar os versos do fundo da alma; Steve Turner apresentava um show de microfonias de dar inveja a Thurston Moore; Guy Maddison e Dan Peters demonstravam um ótimo entrosamento entre baixo e bateria, respectivamente.

A surpreendente “Hate The Police”, cover do The Dicks, foi a última executada. Quem já foi a um show do Mudhoney sabe que é impossível definir em um texto a energia que a banda transmite ao tocá-la. E para quem acha que o fôlego dos caras acabou por aqui, está redondamente enganado. Ainda teve o bis...

Três músicas encerraram a extraordinária noite no Clash Club. A primeira delas, “The Open Mind”, teve uma excelente performance vocal de Mark Arm, contemplado com um par de seios à mostra, de uma dama que integrava o público. Em “Tales Of Terror”, Iggy Pop encarnou de vez no vocalista e a casa respondeu à altura. Melhor que isso só se o Mudhoney encerrasse a apresentação com um cover de uma das maiores bandas de toda a história do hardcore. E não é que aconteceu: “Fix Me”, do Black Flag, deu o recado final.

Depois de uma hora e vinte minutos, o Mudhoney saiu tranquilamente do palco, e a mesma sensação tomou conta dos presentes: “Putamerda! Como esses caras são foda”! Diferentemente da maioria dos auto-denominados “roqueiros de hoje”, o quarteto toca com garra, sinceridade e lealdade aos fãs. Goste ou não, o fato é que os “caipiras de Seattle”, quando estão em cima do palco, suam a camisa e, acima de tudo, tocam por amor. Depois deste verdadeiro espetáculo, só tenho uma coisa a dizer: ser fã do Mudhoney é motivo de orgulho.

por Bruno Gazolla

4 comentários:

  1. Puxa. Eu gostaria muito de ter visto esse show.
    Vi duas vezes aqui no Rio. Uma delas, foi na abertura o show do Pearl Jam, em 2005. Foi rápido, mas bem empolgante. A outra foi em 2008 e eu atá subi no palco!

    Tá aí o Mudhoney mostrando seu rock cru e divertido a galera mais uma vez!

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  2. Bela resenha amigo ...
    e belo show também, nem liguei muito pro amplificador pipoqueiro. quem liga quando se tem mudhoney improvisando no palco?

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  3. Show fodástico dessa banda que considero como a melhor do Grunge.Perfeito mesmo com as imperfeições técnicas que ocorreram. Depois do show, depois de esperar um bom tempo, fui "abençoado" com autógrafos de todos no meu CD My Brother the Cow e na capa do vinil Piece of Cake. Todos muito atenciosos atenderam os poucos que insistirma em aguardá-los na saída. Keep'on rockin' Mudhoney rulez!

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  4. Hauhauhauaa. Eu sou a guria que mostrou os seios nos dois últimos shows deles no Clash.
    =)

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