sexta-feira, 17 de julho de 2009

Resenha: CJ Ramone e Convidados - Outs - São Paulo_07/07/2009


Quando soube que o CJ viria ao Brasil, confesso que fiquei com o “pé atrás”. Quem conhece a história dos Ramones sabe que os próprios membros diziam que ele era apenas um “músico contratado” e que “nunca foi um ramone de verdade”.

Algumas semanas foram necessárias para que eu aceitasse melhor essa idéia e realmente desse a importância merecida ao grande CJ. Desenterrei os discos de estúdio nos quais ele substitui o saudoso Dee Dee. Mondo Bizarro (1992), Acid Eaters (1993) e Adios Amigos (1995) não saíram do meu aparelho de som nos dias que antecederam a homenagem feita por ele a uma das maiores bandas da história do Rock.

O flyer do Outs dizia: “Festa de 35 anos dos Ramones: CJ Ramone e Convidados Especiais”. Ao lado do baixista, grandes nomes como o guitarrista Daniel Rey, lendário produtor dos álbuns Halfway To Sanity (1987) e Adios Amigos (1995), e co-autor de diversas músicas dos Ramones; Brant Bjork, baterista e membro original de uma das bandas precursoras do stoner rock, o Kyuss - diga-se de passagem, esse foi o “embrião” do Queens of the Stone Age.

Terça-feira não é nada propício para um show de Rock, não é mesmo? Mas, tratando-se de um tributo aos Ramones, é claro que não hesitei. Por toda a extensão da Rua Augusta, algumas “profissionais do sexo” denunciavam que o “movimento” é forte mesmo no início da semana. Dentro do Outs, um calor infernal, ventilação quase nula, e a casa extremamente lotada. Já na segunda banda de abertura, Fox Hound, era bem difícil se locomover de um canto ao outro. No entanto, não seria esse contratempo que ofuscaria o brilho da apresentação de CJ e seus convidados.

Infelizmente, não consegui chegar a tempo de presenciar o show do The Razorblades. Sabe-se apenas que os caras fizeram um som na linha do Holly Tree, ou seja, mais um Green Day brasileiro. A segunda banda a subir no palco foi o Fox Hound, que mostrou um bubblegum com pitadas 77 nada empolgante. Talvez quem tenha menos de 20 anos os ature mais pacientemente. Entretanto, vale uma ressalva, os rapazes executaram excelentes covers: Dead Boys, Adicts, Stiff Little Fingers, Sex Pistols, Clash e, a contragosto deles mesmos, pois “o cara [CJ Ramone] estava lá”, Ramones.

Enfim, o momento mais aguardado em meio aquele simpático-maldito-calor-humano - eu suava feito um porco na brasa!; quando os organizadores perceberão que um local com capacidade para duzentas pessoas não abriga quinhentas? Pois bem, banda e equipe passaram escoltadas por seguranças no meio da galera. E como era de se esperar, um dos coros mais tradicionais do Rock anunciava a entrada triunfante de CJ e cia. Um “Hey! Ho! Let’s Go!” alucinado quase derrubou as paredes do Outs. Foi com essa receptividade avassaladora, digna do público latino-americano, que a clássica “Blitzkrieg Bop” deu início ao set.

CJ anuncia “Judy is a Punk” e, logo em seguida, manda o clássico “one, two, three, four” responsável por consagrar as apresentações ao vivo da banda. Também do início da carreira, “Beat on the Brat” e “Cretin Hop”, não só incendiaram a platéia como também mexeram com o coração do baixista. A satisfação e a alegria eram evidentes em seu rosto. Qualquer um que se atentasse à fisionomia dele perceberia facilmente que, para CJ, tocar no Brasil não era/é apenas mais um show na bagagem, mas um prazer fora do comum. Cá entre nós, por que vocês acham que fomos presenteados com esse tributo?

Para estranhamento de alguns, como o meu, “Do It Me”, do Bad Chopper, banda solo de CJ, foi cantada energeticamente por quase todos os presentes. Na seqüência, três compostas por Dee Dee Ramone: “I’m Against It”, do álbum Road To Ruin (1978); o hardcore porrada de “Endless Vacation”, antecedida pela seguinte frase, “esse som é do meu irmão Dee Dee... acho que vocês devem conhecê-lo”; e para surpresa geral, “Sitting in my Room”, que nunca foi um grande sucesso dos Ramones, no entanto, uma ótima música, especialmente desenterrada para essa homenagem.

E depois da não tão conhecida “Sitting in my Room”, chegou a vez de um dos maiores clássicos do Punk Rock, “Sheena is a Punk Rocker”, que dispensa comentários. É incrível como os Ramones tinham a capacidade de criar excelentes canções com uma simplicidade absurda. Prova disso foi o “recado” dado em “It’s a Long Way Back” – acreditem se quiser, essa música possui somente três versos.

“Poison Heart” foi cantada de forma magistral por Daniel Rey. Mesmo com os fãs gritando loucamente, o cara não perdeu a postura e mostrou que, além de ser talentosíssimo nos “bastidores”, também tem grande competência na linha de frente do palco. CJ dedicou “I Wanna Be Your Boyfriend” às mulheres presentes e em seguida pediu para que todos o ajudassem a cantar o primeiro clássico dos Ramones originalmente gravado com seu vocal, “Strenght To Endure”.

Mais uma vez a insanidade tomou conta da roda com uma das músicas mais hardcore dos Ramones, “Wart Hog”. Esse som faz parte do álbum Too Tough To Die (1984), um dos mais agressivos da carreira – das treze faixas contidas, Dee Dee assina nove.

Só mesmo uma banda com a importância dos Ramones ganharia uma homenagem feita por um dos maiores ícones do metal. Fã declarado, Lemmy Kilmister (Motorhead), em 1991, escreveu uma música, “R. A. M. O. N. E. S.”, como prova de sua devoção. CJ, por sua vez, logicamente não esqueceu desta e a executou de forma curta e energética, assim como manda a boa e velha “escola ramônica”.

Seguindo a mesma linha, foi a vez de Bob Dylan ser lembrado. “My Back Pages” saiu originalmente no álbum de covers Acid Eaters (1993) e é outra das quais CJ também deixou registrado seu vocal. Para encerrar a primeira parte do show, outro clássico absoluto do Punk, “Pinhead”, deu o ar da graça com todos os fãs berrando alucinadamente: “Gabba Gabba Hey!”, “Gabba Gabba Hey!”

Não demorou muito para que os músicos retornassem e eis que surge uma participação nada especial, o filho da ex-prefeita Marta Suplicy, Supla. Visivelmente “chapado”, o “Papito” subiu ao palco para dividir os vocais com Daniel Rey em “Pet Sematary”. Nem preciso dizer que ele foi ovacionado por um enorme acervo de palavrões, né? Porém, devo chamar a atenção para um fato, o cara é corajoso, pois sempre vai sozinho a shows punk.

Para encerrar o fantástico tributo, CJ mandou “Commando”, do segundo álbum, Leave Home (1977). Das dezoito músicas dos Ramones tocadas (as cinco restantes foram covers ou de autoria do Bad Chopper), o ex-baixista escolheu doze que Dee Dee, o baixista original e um dos fundadores da banda, assinou. Isso prova a influência e o respeito que Dee Dee exerceu sob a figura de CJ.

Este não foi apenas mais um show em que músicos gringos viram um bom “mercado” no Brasil e decidiram fazer mais uma turnê lucrativa. Durante toda a apresentação, o amor aos Ramones e o respeito aos fãs brasileiros era nítido na expressão de CJ. Devo admitir que a visão que eu tinha do “músico contratado” foi definitivamente esquecida.

Mesmo antes de sua entrada na banda, CJ era apaixonado pelos Ramones – na época, em 1989, entre centenas de candidatos ao posto de “novo baixista”, foi ele o escolhido. Contudo, sua devoção ainda é tanta que, após vinte anos, ele usou uma camiseta com a formação original: Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy.

É difícil acreditar que alguém que tenha feito parte de uma das maiores bandas de Rock da história tenha a humildade que ele demonstrou. Muitos em seu lugar se achariam no direito de subir em um pedestal e dizer: “Eu toquei nos Ramones e vocês são simples mortais”. No entanto, gostaria que vocês tirassem suas próprias conclusões a partir de um comentário feito durante a apresentação: “Este show é um tributo aos Ramones! É para mim e para vocês, para todos os fãs dessa grande banda!”

Parabéns CJ e que novas homenagens venham em um futuro próximo. O Brasil estará sempre com as portas abertas para a música dos Ramones!



Set List – CJ Ramone e Convidados Especiais _ Outs – São Paulo_07/07/2009

1. Blitzkrieg Bop
2. Judy is a Punk
3. Beat on the Brat
4. Cretin Hop
5. Do It Me (Bad Chopper)
6. I’m Against It
7. Endless Vacation
8. Sitting in my Room
9. Sheena is a Punk Rocker
10. It’s a Long Way Back
11. Swallow My Pride
12. Poison Heart
13. Good Enough For Me (Bad Chopper)
14. I Wanna Be Your Boyfriend
15. Strenght To Endure
16. Wart Hog
17. I Ain’t No Criminal (Bad Chopper)
18. R. A. M. O. N. E. S. (Motorhead)
19. I Wanna Be Sedated
20. My Back Pages (Bob Dylan)
21. Pinhead

BIS:
22. Pet Sematary
23. Commando


por Bruno Gazolla

8 comentários:

  1. Hey Ho! LET's GO!!!

    Ahhh.. falar de Ramones pra você é moleza neh Brunão!...

    Nem tem o que comentar!

    C.J Rocks!!!

    Mandou bem Brunão!

    See ya!!

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  2. mandou bem no texto brunão !!!
    sempre acompanho o seu blog, ótimas resenhas, Parabéns ..

    abração,

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  3. Fala Brunão.............muito bom!!!

    Foi um passeio pra você escrever essa resenha hein...................você tem uma facilidade pra descrever as coisas...............que agente até parece ter presenciado!!!

    O pessoal aqui leu e agradou a todos.

    Frase da minha mãe: "Tem futuro esse muleque hein".................huahuhauauuahua

    Ta escrevendo muito mano

    abração

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  4. Caraca velho que resenha muito boa, estou divulgando o seu blog ao pessoal firmeza, a cada quanto dessa cidade ha sempre um louco e loucos estão nos satisfazendo com gestos de simples e verdadeiro.

    Brunão aquele abraço e faz mais resenhas pois você manda bem.

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  5. Galera,

    Agradeço muito a todos!

    Obrigado pelos elogios... valeu mesmo!


    abraços,

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  6. Muitoooo show a resenha.. parabéns Bru!!!

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  7. "Não tenho palavras, realmente foi a melhor escrita RAMÔNICA que eu já li! Sem nenhuma demagogia mesmo! pois não tenho papas na língua! meus parabéns de verdade! sou suspeito a falar de R.A.M.O.N.E.S. e você sabe disso! mais uma vez meus eternos parabéns pela escrita RAMÔNICA!"

    RATO

    Esse comentário foi copiado da página do meu perfil no Orkut e está na íntegra.

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