Álbum: Nobody's DaughterProdutores: Michael Beinhorn / Micko Larkin / Linda Perry
Gravadora: Mercury Records
Lançamento: 27/04/2010
Nota: 7,5
Após a inatividade de 11 anos do Hole, finalmente Courtney Love rompe o silêncio e faz a alegria dos fãs. Embora seja a única remanescente da clássica formação, ela consegue manter parte da essência de sua antiga banda ao longo das 11 faixas de
Nobody’s Daughter.
Apesar da co-autoria de Billy Corgan, vocalista e guitarrista do Smashing Pumpkins, e de Linda Perry, ex-4 Non Blondes, em algumas canções, o novo álbum é recheado de características marcantes da viúva de Kurt Cobain. Com o pano de fundo de violões, Rock e Pop, o ouvinte receberá altas doses de feminismo, angústia, amor e introspecção.
A produção de
Nobody’s Daughter foi dividida entre o atual guitarrista do Hole, Micko Larkin, Linda Perry e Michael Beinhorn. Este, que também produziu
Celebrity Skin (1998), assinou a maior parte do trabalho.
Se você espera um disco raivoso e sujo, como
Pretty On The Inside (1991) ou
Live Through This (1994), irá se decepcionar. O novo álbum é uma espécie de continuação de
Celebrity Skin – ainda que sem o mesmo brilhantismo de outrora – e de
America’s Sweetheart, disco solo de Courtney Love, lançado há seis anos. Entretanto, isso não faz de
Nobody’s Daughter um trabalho fraco.
“Nobody’s Daughter”, a tranqüila faixa de abertura, mostra um belo arranjo de guitarra e voz e, à medida que se aproxima do fim, cresce e ganha força. Pode facilmente cair no gosto do público, pois é fácil “digeri-la”. “Skinny Little Bitch” vem logo na seqüência e causa uma ótima impressão: vocais rasgados, com um “Q” de Rock “modernoso”, e uma acelerada, digna de início de carreira, nos momentos finais. Sem dúvida, uma das melhores faixas do disco.
Pausa para relaxar. Os violões e vocais da balada “Honey” parecem saídos diretamente de
Celebrity Skin. Apesar das diferenças entre uma faixa e outra, o disco soa bastante interessante e o ouvinte, por sua vez, não se decepciona com a música seguinte. “Pacific Coast Highway”, uma das mais viáveis para tocar nas FMs, é um belíssimo Rock/Pop com letra sobre o amor, em 1ª pessoa. Aliás, Courtney não costuma esconder o que pensa e escancara a vida pessoal no papel.
O vocal é o destaque de “Samantha”. Esta é uma daquelas que o público adorará cantar nos shows, principalmente no refrão, marcado pelos constantes “fuck”. A partir de agora, o ouvinte é transportado a canções predominantemente acústicas e menos agitadas. O álbum sofre uma queda brusca em seu andamento e insiste nessa linha.
Embora o esforço seja notório em determinados momentos dos vocais de “Someone Else’s Bed”, ela chega a dar sono. O mesmo pode ser dito sobre “For Once In Your Life” que, apesar do bonito arranjo de cordas, piano e violino, também não empolga.
A última da sessão “calmaria” é “Letter To God”. À primeira audição, alguns podem torcer o nariz. No entanto, esta faixa vale pela excelente letra - talvez a melhor e mais profunda de
Nobody’s Daughter. Assim como o título sugere, uma carta é endereça a Deus. É possível sentir a dor e a angústia transmitidas por Courtney durante a “conversa” com Ele.
A energética “Loser Dust” quebra completamente o clima tranquilo das músicas anteriores e mostra que o sangue Punk ainda corre nas veias da viúva de Cobain. “Loser Dust” é agitada, suja e rasgada, chegando a lembrar o excelente Distillers com algumas pitadas da rainha Joan Jett.
Às vezes, parece que o processo de criação de alguns músicos é pensando em como incendiar o público durante os shows. Em “How Dirty Girls Get Clean” é exatamente esta a impressão. Essa música, cuja sacada do título deixa dúvida até no técnico Dunga, funcionará muito bem nas apresentações do Hole, pois é explosiva e contagiante. Destaque para a precisão do baterista Stu Fisher.
O álbum é encerrado de maneira nunca antes vista no Hole: um agradável Country que atende pelo nome de “Never Go Hungry”. A despretensão de Courtney é simpática e faz o ouvinte acreditar que a última faixa tenha sido composta enquanto Love tocava violão em uma roda de amigos, depois de belas garrafas de cerveja.
É verdade que
Nobody’s Daughter não tem a contribuição do guitarrista Eric Erlandson, que esteve ao lado de Courtney Love durante toda a carreira do Hole. Entretanto, a identidade da banda foi preservada, assim como algumas músicas foram trabalhadas para que soassem diferentes e inovadoras.
Além disso, medidas as circunstâncias em que o álbum foi criado, o resultado poderia ser bastante insatisfatório, mas Courtney provou quem manda na “casa”. Agora, resta-nos saber se essa história terá inéditos e bons capítulos, ou se a conturbada “queridinha da América” está tentando, mais uma vez, apontar novos holofotes em sua própria direção.
por Bruno Gazolla