segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Resenha: Faith No More - Maquinária Festival 2009 / São Paulo



Depois das grandes performances de Deftones e Jane’s Addiction, eis que o momento mais aguardado pelos 15 mil presentes estava prestes a ser realizado. Enquanto o show do Faith No More se aproximava e a ansiedade aumentava ainda mais, São Pedro resolveu dar o ar da graça e mandou uma bela chuva para refrescar a noite. Quem não gostou muito dessa idéia foi a organização do evento, que foi obrigada a secar e proteger a aparelhagem do palco.

Com aproximadamente 30 minutos de atraso, o público, que já gritava Faith No More alucinadamente, vai ao delírio quando as primeiras notas do teclado de Roddy Bottum anunciam a balada romântica setentista da dupla Peaches & Herb, “Reunited”. O palco estava com a iluminação bastante baixa quando, do lado direito, surge um dos vocalistas mais talentosos, criativos e performáticos da história do Rock.

Protegido por um guarda-chuva, o Senhor das Mil Vozes, Mike Patton, de terno vermelho com uma rosa pendurada na lapela, cabelo puxado para trás com o auxílio de gel, bengala, cinto branco e óculos preto, logo na primeira canção, já demonstrou que a ironia e a qualidade musical, assim como nos anos 90, continuam sendo grandes aliadas do Faith No More.

Na seqüência, emendaram o primeiro clássico da apresentação, direto do álbum The Real Thing (1989), “From Out Of Nowhere”. Foi no início desta música que Patton falou as primeiras palavras em português. Dois belíssimos palavrões, “porra, caralho”, que mais tarde se tornariam uma espécie de “hino” entre ele e a platéia. No refrão, o doentio jogou o pedestal do microfone na área da imprensa e, sem intenção, acertou a cabeça de um fotógrafo do grupo Abril – no entanto, acalmem-se, o vocalista do FNM não está foragido, pois o profissional da Abril não corre risco de morte.

O disco Angel Dust (1992) chegou em grande estilo com “Be Agressive” seguida de “Caffeine”, ambas fizeram a multidão cantar e pular o tempo inteiro. Nas duas músicas, destaque para a precisão do baterista Mike Bordin, que mesmo com seus 46 anos, toca com a mesma técnica e qualidade que o consagraram. O grito entalado desde 1995 – última vez em que o FNM tocou no Brasil, no extinto festival Philips Monsters of Rock – parecia ser colocado para fora. No final de “Be Agressive”, em reconhecimento à entrega dos paulistas, Patton disse “São Paulo, vocês ganharam”! Será que ganhamos como o “Melhor Público da Second Coming Tour”? Só Patton poderá confirmar...

Assim como em 95, “Evidence” foi cantada em um português totalmente compreensível. A única diferença foi que, desta vez, o funk canastrão, foi dedicado ao Zé do Caixão. “Surprise! You’re Dead” fez a Chácara do Jóquei bater a cabeça sem parar. Destaque para os riffs cortantes de Jon Hudson que, desde 97, assume com excelência o posto de guitarrista. A primeira do Album Of The Year (1997), “Last Cup Of Sorrow”, foi cantada em alto e bom som por todos os presentes e, Mike Patton, com o auxílio de seu tradicional megafone, deu uma aula na variação de vocais. Assim que a música terminou, um “obrigaaaaado São Paulo” partiu do fundo da alma do vocalista.

Agora, gostaria de abrir um parênteses pessoal para falar sobre a próxima obra-prima da carreira do Faith No More. Não pude acreditar quando ouvi os acordes iniciais de “Ricochet”. Fui imediatamente transportado aos anos 90. Era como se eu revivesse a emoção de pegar o King For A Day, Fool For A Lifetime (1995), um dos melhores e mais inovadores álbuns da década, e esperar ansiosamente pela faixa 2. Confesso que os olhos lacrimejaram ao presenciá-la ao vivo, com o Faith No More a poucos metros de distância. Sem dúvida, em minha opinião, um dos momentos memoráveis da fantástica apresentação. Infelizmente, qualquer comentário a mais, não estará à altura deste momento insuperável.

É óbvio que a baladinha “Easy”, cover do Commodores, não faltaria. Essa, assim como “Epic”, fizeram a alegria daqueles que tudo o que conhecem do Faith No More não vai além disso – felizmente, no caso do Maquinária, eram a minoria. Entretanto, para eles, devido a esse momento, toda a fortuna investida no ingresso foi compensada, não é mesmo?

A divertida “Caralho Voador”, com passagens em língua nacional, foi antecedida por mais um sucesso da carreira, “Midlife Crisis”. Esta foi iniciada pelo comentário “tudo bem, paulistas”? - grande Mike conquistando a galera com o seu afiado português. Logo depois, foi a vez da excelente - quase hardcore - “The Gentle Art Of Making Enemies”, com pegada impressionante e entrosamento perfeito, e “King For A Day”, para acalmar um pouco os ânimos mais exaltados.

Um dos momentos mais comentados do primeiro dia do festival, sem dúvida, aconteceu no final de “Just A Man”. O ousado vocalista desceu do palco para incentivar os fãs que estavam na área VIP a gritar “porra, caralho!”. Segundos depois, foi incrível e divertidíssimo ver e ouvir o coro de palavrões que tomou conta da Chácara do Jóquei. Como se não bastasse, o “dono da noite”, Mr. Mike Patton, teve a audácia de dar um “selinho” (sic) em um rapaz que estava na grade. E tem mais, o ocorrido só não gerou novos frutos porque o fio do microfone não chegava mais longe. Como vocês podem imaginar, quem não gostou nada dessa atitude foram os seguranças.

Pausa para tomar fôlego e o Faith No More retorna para o bis. Mais uma vez, algo extremamente inusitado acontece: depois de Patton ter dado a horrível notícia de que provavelmente aquele seria o último show do Faith No More que os brasileiros veriam, o baixista Billy Gould dedicou a música seguinte ao Palmeiras. Patton vai no embalo e grita, acompanhando por um sampler de “olê, olê, olê, olê” o nome do time alviverde de Parque Antártica – revolta de alguns e satisfação de outros, como a minha! Um trecho de “Chariots Of Fire”, do compositor grego Vangelis, antecedeu “Stripsearch” e, logo após, “We Care A Lot”, a única da fase Chuck Mosely, primeiro vocalista do grupo, teve todos os versos literalmente berrados pela platéia.

Para encerrar a noite magistral, veio o excelente cover do pianista americano Burt Bacharach, “This Guy’s In Love With You”, que, só para variar, pode-se destacar o inatingível e surpreendente vocal de Mike Patton. Quando todos achavam que o show se encerraria naquele momento, a empolgante introdução de “Digging The Grave” trouxe a adrenalina de volta e fez a Chácara do Jóquei estremecer.

Em uma época em que o Rock se tornou extremamente comercial e aceitável, o Faith No More provou que ainda é possível fazer um show com garra, qualidade, sinceridade e, principalmente, amor à música. Sem dúvida alguma, o dia 7 de novembro de 2009 ficará registrado na memória de todos os que tiveram o imenso prazer de conferir a apresentação, que pode ter sido a última no Brasil, de uma das melhores bandas dos últimos 28 anos.


Set List – Faith No More / Maquinária – São Paulo

Reunited
From Out of Nowhere
Be Agressive
Caffeine
Evidence
Surprise! You’re Dead
Last Cup of Sorrow
Ricochet
Easy
Epic
Midlife Crisis
Caralho Voador
The Gentle Art of Making Enemies
King for a Day
Ashes to Ashes
Just a Man

BIS:
Stripsearch
We Care a Lot
This guy is in love with you
Digging the Grave

por Bruno Gazolla

5 comentários:

  1. Cara, simplesmente perfeito!
    me lembro de ter conversado com um amigo que seria ótimo ver FNM tocando ao vivo e tals, mas que infelizmente já era... quando de repente, uma ano depois estavamos ele e eu assistindo o retorno de uma das minhas bandas favoritas a pouquíssimos metros de distância!!! Já fui a muitos shows, e coloco esse como o melhor da minha vida!

    parabéns pelo release e pelo blog!

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  2. Bom...falar de Faith No More com o Sr. Gazolla é garantia de um bom papo ou, no caso daqueles que não conhecem a banda, praticamente uma doutrina sem fé! HAHAHAHAH!

    Mandou muito na resenha meu amigo, COMO SEMPRE. Assino em baixo nas lágrimas inevitáveis no primeiro acorde de "Ricochet". Mesmo sabendo o set list de Curitiba, tem coisas que só acreditamos vendo, ou melhor, ouvindo em alto e bom som.

    Confesso que "Gentle Art..." e "Stripsearch" mexeram bastante comigo... rsrsrs

    Tá bom... tá bom... fiquei com cara de choro quase o show todo. Eu não podia acreditar que os caras estavam ali, foi simplismente surreal.

    Não fica puto porque não nos encontramos... fique feliz por termos testemunhado... RSRSRSRRS!!!

    É meu velho... eu não vou parar de repetir...quem estava lá viu... quem não viu, não vai ver NUNCA MAIS.

    Arrebentou Brunão!

    É como estar na Chácara do Jóquei de novo.


    ABRAÇO!

    E quando puder, confere o meu texto do Maquinária, cheio de erros, não tão glamuroso quanto o seu, mas está lá!..rsrs


    Em qualquer um desses links:

    phillmotta.blogspot.com
    cardenets.blogspot.com
    metalsplash.blogspot.com

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  3. Brunão mais uma vez venho dar uma olhada em suas notícias e me surpreendo mais um vez...................você consegue descrever cada detalhe.......................até eu que não estava lá................consigo imaginar cada reação do público!!!

    Graças ao seu português "muito claro"................agente é transportado até a hora e o local do show...

    Parabéns e se cuide rapaz!!!

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  4. Cara, vou ter que ouvir cada faixa... rs, e vc sabe q nem manjo de FNM, mas você consegue captar momentos e transportá-los pro "papel" como ninguém...

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  5. Galera,

    Muito obrigado pelos comentários.

    Saibam que é extremamente gratificante ler palavras de incentivo quando escrevo algo que vem do coração, como essa resenha do Faith No More.

    Não deixem de ler o meu blog!!

    abraço a todos!

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